segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Giorno 13 - Venerdì, venerdì!

Ahhh a sexta-feira!

Vocês já repararam como as sexta-feiras amanhecem mais bonitas, mas coloridas e mais inspiradoras?

A minha não foi diferente. Pulei da cama animada, pois combinei com a Valentina e com o Jesper de irmos até a praia depois da aula. Fiquei um pouco na dúvida sobre ir à praia de biquini, canga e tudo mais, mas acabei me decidindo por não, já que era certo que eu não entraria no mar (a água aqui é fria, babies).

A aula demorou a passar, mas assim que acabou, encontramos outros companheiros de praia: Lia, da Suíça; Manuel, da Alemanha; e Carolina, do Brasil.

Seguimos para a estação Termini, onde fizemos um pit stop no supermercado para comparmos nossos suprimentos para o dia.

Comprei um sanduíche de prosciutto com queijo e rúcula (tenho comido muita rúcula aqui e olha que não gosto, rs), batatinhas, duas cervejas, água. Meus amigos, muito mais saudáveis do que eu, compraram sanduíches, mas frutas e sucos. Exceto Jesper, que me acompanhou no espírito brasileiro da sexta-feira e também comprou cervejas.

Seguimos para o metrô e faço uma pausa para, novamente, mandar um beijinho no ombro pros brasileiros que amam a Europa, mas acham tudo ruim em terras tupiniquins: o metrô estava abarrotado de gente. Tivemos que nos espremer. Era tipo estação da Sé em horário de pico e não, eu não estou exagerando.

Descemos na estação Pirâmide (lugar que ainda não conheço) e fizemos baldeação para o trem (com o mesmo ticket, conforme expliquei no post anterior). Daí foi mais tranquilo e seguimos até a parada final (Critóvão Colombo), que já é a praia de Ostia. Mas, depois, pegamos um ônibus local (com o mesmo bilhete) e fomos até o Posto 6 (e não, eu não estava em Ipanema, rs).


O inconveniente é que, como não é mais verão por aqui, embora faça 30 graus todos os dias; este ônibus local demorou 40 minutos para chegar. Mas, tudo bem. Era sexta-feira e nós estávamos na praia.



Quando finalmente chegamos na areia, as meninas foram se trocar no vestiário e os meninos se trocaram ali mesmo, amarrando uma toalha na cintura e pronto. Sem rodeios, sem mimimi. Lá encontramos dois amigos da Lia, que são suíços e vivem na Itália porque fazem parte da Guarda Suíça (espécie de polícia do Vaticano, conto mais num post sobre isso). Mas não houve muita interação com eles, que praticamente só falaram alemão entre os nativos da língua.

Eu, que não tinha levado biquini, me arrependi. Não pelo mar, porque a água é realmente gelada, mas pelo sol em si. Que tarde linda, que céu azul! A certa altura, fui ao vestiário, tirei a blusa e fiquei só de top e shorts. Confesso que, no início, estava um pouco tímida, porque as meninas são todas muito miudinhas e magrelas, mas depois eu nem me preocupei, principalmente porque percebi que ninguém estava preocupado. Simples assim.



Tenho reparado muito nas pessoas, ultimamente. Mas não reparado no sentido físico, mas sim no sentido de como as pessoas veem o mundo e vivem a vida.

E foi bonito de ver a Valentina na praia. Assim que ela se trocou, correu para o mar com uma vontade, que a água até parecia em temperatura agradável. Ela se jogou, junto com a Lia, de cabeça, alma e coração, naquela água fria e calma, que brilhava à luz do sol. Elas brincaram no mar, como uma criança que vai à praia pela primeira vez. Depois de um bom tempo, quando retornaram à areia, perguntei como conseguiam encarar a água gelada. A resposta foi simples, como o sorriso que as acompanhava:

"Nós não temos praia na Suíça, por isso temos que aproveitar todos os instantes por aqui."

A vida é mesmo curiosa, né? Porque, neste momento, pensei em como nós, brasileiros, sempre pensamos na Suíça como um bom exemplo de civilização e sociedade e blablabla. Mas nunca me passou pela cabeça que lá não há praia.

Nós temos belas praias no Brasil e isso nos faz ser motivo de inveja para essas meninas que vivem no lugar perfeito para nós. Curioso, né?

De repente, a felicidade dessa menina me fez entender como damos valor àquilo que não temos ou que perdemos.

São mesmo as pequenas coisas que transformam a vida de uma pessoa. Como Valentina vai embora daqui a 15 dias, e está sofrendo muito com isso, ensinei à ela a palavra 'SAUDADE'. Foi amor à primeira vista para ela, que me disse, de maneira muito carinhosa:

"Na minha casa, sempre haverá uma cama para você." 

Abracei minha nova amiga com sinceridade e disse que a recíproca era verdadeira. Depois disso, ela propôs que todos nós combinássemos de nos reencontrar em Roma, daqui um ano. Todos dissemos que sim, mas é triste saber que, no fundo, isso é apenas euforia do momento, romanceado pelo belíssimo pôr-do-sol (tramonto, em italiano, a quem interessar) que caía ao mar, iluminando-o de um tom avermelhado que aquecia os nossos corações.



Sei que somos pessoas muito diferentes, todos nós. De culturas diversas, de costumes distintos. Mas, por algum motivo, o sentimento de carinho e amizade que surgiu entre nós, é real, apesar de recente. Eu me sinto querida, de verdade, por essas pessoas que acabei de conhecer e que já são capazes de mudar a minha maneira de enxergar e lidar com a vida.

Na praia, o pessoal me perguntou sobre minhas tatuagens que, de uma maneira geral, significam equilíbrio. Quando pegamos o ônibus de volta para a estação de trem, eu quase caí umas três vezes porque o motorista dirigia que nem um louco e eu não estava me segurando bem. Eis que o Jesper me pergunta:

- E todo seu equilíbrio, onde está? 
- Não sei, acho que estou procurando... - Respondi sorrindo timidamente.
- Então você está no lugar certo. A Itália vai te ajudar a encontrá-lo. - Sorriu ele de volta, entendendo o que havia por trás da minha resposta. Aliás, todos entenderam e me devolveram sorrisos carinhosos.

Jesper, da Suécia; Eu, do Brasil; e Valentina, da Suíça

Imaginem vocês que eu estava voltando da praia, suja de areia, suada do sol, descabelada do vento e, em meio a tudo isso, a Lia falou qualquer coisa em alemão para Valentina, que me traduziu dizendo que a Lia, que tem muita dificuldade com o italiano, pediu para me dizer que o meu rosto era muito bonito. Eu fiquei muito sem graça, mas especialmente agradecida, porque pensei como eu sou boba: estava com vergonha de tirar a blusa na praia e ela elogia a beleza do meu rosto... Os valores dessas pessoas têm me surpreendido muito para o bem!

Cheguei em casa quando já havia anoitecido, tomei um bom banho e preparei meu jantar: capeletti recheado de prosciutto ao sugo. Estava uma delícia e, de fato, eu estava precisando comer algo que me desse mais sustância.



Estava cansada, mas não deixei a peteca cair: sequei o cabelo, me maquiei, me troquei e saí. Encontrei Valentina na boca do túnel (aquele mesmo que outrora eu havia achado muito perigoso) e seguimos para San Lorenzo, onde achamos uma mesinha depois de pedir um mojito, que segundo Valentina, era a bebida mais forte do mundo por apenas $3,50. Mentira: o mojito era uma delícia, mas achei bem suave, o que me fez entender que ela não está acostumada ao álcool, hehe.



Logo chegaram Lia e Manuel (que moram na mesma residência) e Jesper, que estava animadíssimo com a sexta-feira e não parava de repetir sorrindo: "È venerdì, venerdì!!" haha!

Ele estava tão animado, que descontou no álcool: mojito, cuba, shots, caipinhas... uma misturaba só, que o deixou tão bêbado quanto engraçado.

Logo em seguida, ele encontrou com uma amiga italiana que já havíamos conhecido no dia em que fomos no 100 Montaditos, mas a menina não foi muito simpática com a gente e, literalmente chegou chegando nele, de forma tão explícita, que ele ficou bem sem graça.

Nós nos divertimos com a cena, porque achei curioso a atitude dela, que não se intimidou e nem desistiu do que queria.

O problema é que ela queria ir à uma festa de música eletrônica e nós não. Eu detesto música eletrônica e não pagaria, principalmente em euros, para uma coisa que já sei que não curto. Para minha sorte, Lia e Valentina também não queriam ir.

Manuel, o alemão, é um menino de apenas 18 anos que está viajando sozinho pela primeira vez. Não preciso nem dizer que na segunda capirinha (que era feita de cachaça mesmo, eu provei para me certificar), ele já estava completamente bêbado, o que nos deixou um pouco preocupadas, porque ele é muito novo. Então, decidimos que era hora de comera alguma coisa para equilibrar o nível etílico do menino.

Saímos do bar e começamos a andar por San Lorenzo e Jesper ficou num conflito sobre o que fazer. Veio correndo atrás da gente e deixou a 'ragazza' sozinha, mas eu disse a ele que não tinha problema dele não ficar conosco... ainda teríamos outros dias juntos, então, que fosse aproveitar a noite dele.

Quando sentamos para comer batata frita, Valentina me disse que não tinha gostado da menina que estava com ele, porque a tinha achado muito pedante. O engraçado é que eu pensei a mesma coisa, mas depois 'despensei', porque estou tentando não julgar as pessoas. Mas, pelo visto, a minha impressão não estava tão errada e devo confiar nos meus instintos, rs.

Voltamos para casa caminhando, às 3:00 da manhã. Valentina ficou na rua da casa dela, que é um pouco antes da minha, que fui a segunda a deixar o grupo. Lia e Manuel seguiram para Termini, onde pegaram um ônibus para casa.

Antes de dormir, conferi meu despertador umas mil vezes para não perder a hora, rs, tirei a maquiagem e capotei. Estava cansada, mas feliz!

Venerdì... Ah, venerdì!

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