segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Giorno 14 - A Villa Adriana e as ruínas da minha vida

Dormi apenas três horas e me surpreendi com a minha capacidade de ser bem humorada mesmo assim.

Me arrumei rápido, comi uma fruta em casa e encontrei a Viviane em frente à Benetton da Termini para seguirmos juntas ao passeio da escola para Villa Adriana. Mas só depois de um cappuccino, é claro!

A Vivi não estuda na mesma escola que eu, mas pedi na secretaria e autorizaram que ela acompanhasse esse passeio, o que foi ótimo porque ela é uma ótima companheira de viagem e curte muito conhecer novos lugares, além de ser uma pessoa muito agradável e de bem com a vida!

Nós seguimos até a estação Ponte Mammolo, que é uma antes da Rebibbia, linha B do metrô; onde era o ponto de encontro com o pessoal da escola. Lá, compramos o bilhete do ônibus intermunicipal e seguimos para Tivoli, onde fica a Villa Adriana.

No meio do caminho, duas mulheres entraram no ônibus e, como estavam com crianças no colo, pediram para que os meninos que estavam sentados ao meu lado e da Vivi, cedessem os lugares à elas.

Assim que elas sentaram, senti o cheiro forte de pessoas em condição de rua, que não tomavam banho há um bom tempo. O cheiro me causou ânsia e pensei em levantar, mas em seguida pensei que eu estava sendo muito preconceituosa, principalmente porque a senhora sentada ao meu lado começou a amamentar o bebê que estava em seu colo.

Elas conversavam em um dialeto estranho e logo percebi que eram ciganas. Poucos minutos depois disso, senti a mulher que estava amamentando o bebê enfiar a mão no bolso da minha calça jeans, exatamente onde estava o meu celular (eu o coloquei lá propositalmente). Dei um pulo e falei: "EI!", bem alto. Ela fingiu que ia pegar algo na bolsa e falei para a Viviane ficar alerta, mas ela também viu a cena. Depois disso, elas desceram no ponto seguinte.

Já é o segundo dia seguido que percebo que preciso seguir os meus instintos. Espero me lembrar disso numa eventual próxima vez e... seguir os meus instintos!

Mas ainda bem que, no fim, tudo correu bem.

O trajeto até a Villa Adriana demorou em torno de 40 minutos de ônibus e, depois, caminhamos mais uns 20 minutos (boa parte numa subida!) até finalmente entrarmos nas ruínas. Vale alertar que é um passeio pago, a entrada não é gratuita.



Meus amigos não fazem esses passeios e, de forma geral, ninguém da minha faixa etária os fazem, concentrando um grupo de pessoas mais velhas. Mas acho ótimo, porque converso muito com eles, que se interessam de uma maneira diferente pela história e cultura dos locais que visitamos. Além do mais, eles fazem pesquisas antes dos passeios e enchem os guias de perguntas bem pertinentes, o que é excelente!

Uma breve observação antes de começar o passeio: na hora que chamei todo mundo para tirar a #selfie abaixo, eles ficaram encantados com a minha ideia e acharam muito moderno. Adoraram! rs!


Resumindo um pouco da história e para contextualizar o caro leitor, explico que a Villa Adriana é a antiga moradia do Imperador Adriano, que construiu essa pequena cidade de maneira engenhosa e admirável. Amante de arquitetura, Adriano não poupou esforços para valorizar a beleza do local, usando sempre a água e o verde como elementos decorativos.

Atualmente, o local está em ruínas, dado que está abandonado desde o ano 138 d.C, quando o Imperador morreu e praticamente ninguém mais ocupou o palacete.

O que mais me impressionou, do ponto de vista estrutural, foram os esquemas de aquedutos que cercavam a Villa, e que irrigavam as termas. São extremamente parecidos com os utilizados pelas sociedades atuais, só que muito mais primitivos, obviamente.

Dessa forma, pensei diversas vezes no significado da palavra ruína, que quer dizer restos de um ou mais edifícios desmoronados ou destruídos pelo tempo, explosão, incêndio ou qualquer outra causa natural ou acidental. Poder ser, também, num sentido mais figurado, o enfraquecimento que leva à destruição ou perda; abatimento, aviltamento, decadência; queda.

Estar neste lugar me trouxe, indiretamente, muitas lembranças pessoais, sobre as quais não convém falar aqui. Mas, ao mesmo tempo, não consegui desassociar essas lembranças ao estado em ruínas do local onde eu estava, que apesar de maravilhoso, eram apenas parte da história que construiu e fortaleceu o mundo como o conhecemos.

Acho que me identifiquei com isso tudo.


De uma maneira simbólica, sinto que algo em mim está em ruínas, o que significa que não desapareceu, mas não tem mais força para se sustentar. E, por mais que isso me incomode, porque seria muito mais fácil destruir tudo e apagar da memória; resta em mim a beleza dessas ruínas, que estão ali, ainda sólidas, para me lembrar o que representaram um dia, e deixar claro que, atualmente, são apenas memórias do que me ajudaram a me construir como mulher e como uma pessoa melhor.

Do mesmo jeito que olhei e admirei a grandiosidade das obras do Imperador Adriano, parei em diversos momentos e olhei para mim mesma, agradecendo a grandiosidade de ter em mim ruínas tão preciosas, que embora estejam em estado de destruição, conservam a dimensão do que é ter sentimentos reais dentro de mim.

Não sei se estou me fazendo clara. Mas tenho muito medo de cair no esquecimento. E acabo não permitindo ser esquecida, o que muitas vezes significar forçar uma barra e criar uma falsa realidade de presença. E acho que a beleza do que restou deste grande Império fez com que eu entendesse, dentro do meu coração, que nem tudo que é bonito deve ser eterno. E, principalmente, nem tudo que acaba, deve ser esquecido.

Eu, minúscula perto da grandiosidade desse lugar maravilhoso!

Foi uma manhã exaustiva, não só porque caminhamos por todo trajeto a céu aberto e debaixo de um sol escaldante; mas porque mexer com sentimentos profundos não é fácil. Especialmente quando se percebe que, chega um momento, que é preciso deixar as coisas seguirem seu fluxo natural.

Reconhecer que não se pode mais segurar o que não lhe pertence pode ser sinal de maturidade, e acredito que seja mesmo; mas é também uma forma dolorosa de dizer adeus a algo que você nem sabia que poderia viver sem. E agora, tem que descobrir. Sozinha.

É... foi cansativo.



Quando voltamos a Roma, eu e a Vivi estávamos morrendo de fome e almoçamos uma bela pasta aqui perto de casa. Quando cheguei aqui, simplesmente me joguei na cama e dormi por umas duas horas.

Me obriguei a levantar, tomar um banho e me arrumei para sair novamente.

Primeiro, saí com o Valdir e com a Maria, porque era a última noite dela aqui. Comi uma pizza e eles tomaram um drink cada. A noite estaca convidativa: calor na medida certa, céu aberto, pessoas felizes nas ruas.



Voltamos para casa, terminei de me arrumar e me despedi da Maria.

Maria é uma senhora de 57 anos que viaja o mundo sozinha. Sim, recalcados de plantão: ela é casada, tem dois filhos, cachorros, gatos, pririquitos e papagaios. Mas ela também é do mundo e, às vezes, precisa de um tempo só para ela.

Depois de toda minha reflexão Adriana, entendo que, ao contrário de mim, Maria sabe se fazer sentir saudades. Ela estava ansiosa para reencontrar sua família e era bonito de se ver a alegria dela em, após um mês fora, voltar para casa. Foi uma pessoa muito bacana de ter conhecido. E foi importante para mim encontrar uma mulher tão bem resolvida na vida pelo caminho.

Fui novamente para San Lorenzo encontrar a Valentina e o irmão dela, que chegou para visitá-la ao longo desta semana. Levei o Valdir comigo, porque ele estava muito sozinho aqui.

Mas não foi uma boa ideia ter saído, porque eu não tinha percebido o quanto estava cansada. O mojito, que ontem parecia água com hortelã, hoje parecia uma bomba no meu fígado. Não consegui beber e uma Coca Zero resolveu este problema. Ficamos pouco por ali e caminhamos um pouco pelo bairro, que tem cara de Vila Madalena ou, como bem definiu o Valdir, parece a Maria Antônia no horário de intervalo do Mackenzie, hehe!

Voltamos para casa e apaguei!

Mas não sem antes enviar uma mensagem para Viviane pedindo para nos encontrarmos um pouco mais tarde no domingo, pois eu precisava dormir um pouco mais.

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