terça-feira, 21 de outubro de 2014

Giorno 24 - A primeira aula de culinária italiana a gente nunca esquece

Enrolei para levantar da cama nesta terça-feira já que, para variar, meu sono foi interrompido na madrugada. Mas dessa vez percebi que meu quarto fica muito claro, embora tenha uma cortina e acho que isso atrapalha meu sono, porque estou acostumada a dormir no escuro.

E hoje, antes de ir para aula, parei num lugar ao lado da Termini para tomar o café da manhã. Vocês já assistiram 'Comer, Rezar, Amar'? Tem uma cena típica de Roma, logo quando a Liz (interpretada pela Julia Roberts) chega à cidade e não consegue pedir seu café, e daí conhece a moça da Suíça que a ajuda e se tornam amigas.

Vivi algo semelhante hoje. E adorei, rs. Porque era uma multidão gritando o pedido, tentando ser atendido... Mas consegui meu cornetto de chocolate, meu cappucino e meu suco de laranja natural que desceu redondo. Fazia tempo que não saboreava um!



Cheguei à aula um pouco atrasada, mas logo comecei as atividades de conversação. A minha dupla de hoje foi a Miu e, depois, um novo aluno argentino que se chama Mathias e é professor de inglês em Londres, onde mora há quatro anos. O exercício durou mais de uma hora e, em seguida, fizemos uma atividade daquelas que adoro, de criar o diálogo em cima de uma situação hipotética teatral que o professor encena. Fui muito bem hoje na escolha correta das palavras e, principalmente, na gramática. Estrelinha para mim, hehe!

Saímos tarde para o lanche, mas não achei tão ruim, já que meu café da manhã tinha sido reforçado. No retorno, assistimos um vídeo e conversamos mais.

Ao final da aula, o professor me chamou para perguntar se eu tinha me inscrito para o teste de proficiência. Eu disse que sim. E, então, ele me perguntou para qual nível. Quando respondi B1, ele me disse que eu estava sendo medrosa e que deveria mudar minha inscrição para o B2. Fiquei feliz. Se meu professor confia em mim, por que eu não deveria fazer o mesmo, né?

Almocei com a Sara (suíça que mudou para minha sala essa semana e também está fazendo o curso preparatório para o teste) e com o menino da Suíça que não sei o nome, mas que reclamei da falta de educação dele na semana passada, porque só falava em alemão e jogou o cigarro no chão da estação. No fim, percebi que ele é só um menino de 18 anos que não tem muito noção de nada. Hoje ele foi bem mais simpático e educado, assim que dei uma segunda chance para minha percepção sobre ele.

[Notal mental: a primeira impressão nem sempre é a que deve ficar.]

Fomos a um pequeno restaurante pertinho da escola, que eu não conhecia. Lá, levamos um susto: uma mesa enorme cheia de alemães vestindo a camisa do Bayern de Munich. Hoje foi dia de jogão da Champions League aqui no estádio do Roma (e que eu não consegui comprar ingresso, infelizmente) e o clima na cidade é de Copa do Mundo: torcidas para todos os lados, camisas dos times, bandeiras, festa... Tá uma delícia para matar a saudade dos belos dias de mundial no Brasil!



Percebemos que os alemães estavam um pouco preocupados com o dono do restaurante, torcedor do Roma, e isso se confirmou quando eles perguntaram para meus colegas (que falam alemão) se corriam risco de comer comida estragada (sempre num tom de brincadeira, é claro).

A comida era bem caseira e escolhi o tradicional caccio e pepe, mas era um prato enorme, rs!

Depois, corremos para a aula, que começa às 13h30. E foi quando eu percebi que preciso estudar! Os exercícios são bons, a professora, Luiza, é uma querida... Mas eu preciso focar um pouco mais de atenção na norma culta da língua italiana, que assim como o português, é bem diferente da maneira coloquial de se falar nas ruas.

Ao sair da aula, que não tem intervalos, passei na secretaria para pagar o curso e mudar meu nível para B2. E vamo que vamo!

Na saída da escola, percebi que estou cada vez mais sendo eu mesma e muito à vontade com isso. Encontrei um casal de brasileiros que conheci na semana passada, encontrei Esther (da Holanda), encontrei o Felipe da minha sala... Mas mais do que isso, eu perguntava coisas pessoais a eles, do tipo: "Como foi o passeio a tal lugar?", ou "Gostou do restaurante Tal?", ou ainda "Boa sorte amanhã quando for resolver tal coisa...".

Acho que o que estou tentando dizer é que me aproximei das pessoas das mais diversas idades. Não me tornei melhor amiga de infância delas, obviamente; mas eu abri espaço para conhecê-las e as escutei de verdade, porque me preocupei em dar atenção real a cada uma delas.

De uma maneira geral e sem modéstias, gosto dessa característica em mim. Parece que estou sempre unindo pessoas e ligando os pontos soltos.

Como dizem que amanhã começa o frio por aqui (estou no aguardo!), fui caminhando lentamente no sentido do ponto final do ônibus na Temini, curtindo o solzinho bom no rosto e o clima pré-jogo pelas ruas.

Na estação, fiquei um pouco preocupada e com receio de errar o ônibus que eu deveria pegar para seguir para minha primeira aula de culinária italiana. As informações eram claras e me diziam que eu deveria pegar o ônibus 714, mas eu não ando de ônibus nem em São Paulo, quase (sim, muito patricinha de Moema, tô sabendo, hehe) então não é um processo muito simples para mim, acreditem.

Mas logo identifiquei a parada do tal ônibus e esperei o motorista para perguntar sobre o local que deveria descer. Ele, obviamente, foi um grosseiro tipicamente italiano, mas acabou dando a resposta que eu precisava.

Na primeira parada, entraram no ônibus umas quatro mães com seus filhos, que deviam ser umas seis crianças entre 7 e 10 anos e que, como toda criança dessa idade, não paravam quietos. Mas também entrou uma senhora de rua, que - deixando todos os preconceitos de lado - espalhou seu mal cheiro pelo ônibus inteiro. Cheguei a ficar sem respirar o máximo que pude com medo de passar mal. A moça do meu lado desistiu e desceu na parada seguinte. E outros tantos o fizeram.

Senti muita pena. Mas não dava para suportar...

Mas o fato é que um dos meninos que entrou no ônibus começou a fazer molecagens, como subir nos bancos, escalar etc. O motorista deu uma bronca e ele sentou. Quando, dois minutos depois, começou a fazer tudo de novo, essa senhora o chamou de mal educado e disse que se a mãe dele não lhe dava educação, que ela o faria, e o mandou sentar.

Ele, muito espivetado, respondeu que pelo menos a mãe dele não fazia todo mundo querer vomitar.

E aí foi a conta: começou um bate boca do menino de 10 anos com a senhora de rua, que devia ter lá seus 60... Até que ela gritou:

"BASTA! Quando uma senhora de idade fala, você tem que ficar quieto e respeitar."

E, finalmente, a mãe dele mandou ele parar de responder. Eu fiquei chocada. Foi uma troca de grosserias entre pessoas desconhecidas e de faixas etárias tão distintas, que nem sei o que pensar.

Acho que as pessoas estão mesmo perdendo a noção, sabe? Porque a mulher podia estar fedendo e, talvez, não devesse ter se metido na falta de educação do menino, mas a atitude dele... e da mãe, que assistiu tudo e não falou nada? Sei lá... o mundo tá mesmo de cabeça para baixo...

Bom, quando finalmente desci na minha parada, caminhei alguns metros para o lado errado, é claro (eu e esse meu não-senso de direção, hehe); mas logo me achei e cheguei à casa de Dona Anna às 17h15.

Don'Anna é uma senhora de 74 que parece a típica 'nonna' italiana, mas que não tem netos. Mãe de três filhas mulheres e solteiras, ela se separou de seu marido depois de 28 anos de casada. É professora de História aposentada e nasceu em Roma, ao lado da Fontana di Trevi, mas já morou muitos anos em Torino e em Milão, por conta do trabalho de seu ex-marido. Depois que se aposentou, ficou se sentindo muito parada e, por isso, resolveu começar a dar as aulas de culinária, já que gosta tanto de cozinhar e faz desse hobbie uma aula de verdade, pois conta aos alunos um pouco da história dos nomes dos pratos, dos ingredientes, das tradições da culinária italiana. Além disso, Don'Anna faz pilates e hidroginástica, para se manter ativa.

Soube de tudo isso enquanto preparávamos o spaghetti ao pesto e o polpetone ao molho de vinho branco e limão siciliano, que compuseram o menu desta noite, como primeiro e segundo prato, respectivamente, como manda a tradição italiana.





Conversamos muito e, claramente, em italiano. Acho que, de longe, esse foi o melhor exercício de conversação que já tive. E a melhor parte é que ela me elogiou muito e fez pequenas correções pontuais. Falamos sobre política dos dois países, sobre viagens, sobre comidas, bebidas e muito mais.

Ela é, realmente, uma senhora muito 'carina' e bastante especial. Me ensinou tudo com muita paciência e boa vontade.

Por exemplo, vocês sabiam que não se deve ferver o macarrão na água com óleo? Isso mesmo! A verdadeira 'pasta' italiana é cozida na água apenas com sal. O segredo para não grudar? Ficar mexendo o tempo todo; nada de preguiça.

Ao final, jantamos o que preparamos juntas e, modéstia à parte, estava uma delícia. Para o meu paladar, devo colocar um pouco menos de alho no pesto. Mas de resto, eu gostei bastante.

Como hoje foi só o primeiro dia, a sobremesa foi comprada mesmo: um típico 'gelato' italiano, que era delicioso, mas eu já não aguentava mais comer, hehe!



Voltar para casa foi menos trabalhoso porque o caminho era o mesmo só que inverso e o ônibus não demorou a chegar.

Quando desci na Termini e estava voltando para casa, um cara lançou qualquer cantada de pedreiro para mim, como é de praxe dos homens italianos; e eu ignorei. Segui para casa e, quando estava quase chegando à minha porta, o cara surgiu de novo, perguntando se eu não ia falar mesmo com ele. E eu respondi que se quisesse, já teria falado da primeira vez.
Ele não desistiu.
Perguntou se podia me acompanhar até em casa.
Eu disse que não.
Daí me perguntou se eu podia dar o meu telefone para ele me ligar.
Eu disse que não.

Coloquei a chave na porta, entrei no prédio e fechei na cara dele, sem pensar muito no quesito ser educada.

Isso em Roma é insuportável. Tudo bem que é legal ser paquerada e os caras terem atitude. Mas 'não' significa 'não' e eles não aceitam essa resposta, o que causa diversas situações estressantes, principalmente com as estrangeiras (sim, porque as italianas xingam eles bem alto e fim hehe).

Antes que se preocupem, eu não tive medo por dois motivos. Primeiro porque a rua estava bem movimentada e não deserta, assim que não vi problemas. Depois, porque por mais imbecis que eles sejam, eles não encostam um dedo em você. Enchem o saco com esse blábláblá; mas não colocam a mão em um único fio de cabelo seu. Assim que, inspirada na atitude que vejo as mulheres italianas tomarem, fui enfática e firme no NÃO. E pode parecer paradóxico, mas eles respeitam essa distância.

Subi louca para lavar a roupa do fds (ontem não tinha sabão), mas a máquina estava ocupada, o que adiou mais uma vez meus planos. Ahhh!

Tomei um banho, chequei e-mails e cá estou, dividindo mais um dia com vocês.

Mas agora durmo #chatiada: o Roma perdeu do Bayern de Munich por nada mais, nada menos do que 7 a 1. Resultado familiar para algum de vocês este? Pois bem. Ou minha torcida não está dando sorte este ano, ou sete é realmente o número de ouro da Alemanha em 2014.

Hehe.

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