terça-feira, 28 de outubro de 2014

Giorno 31 - As lembranças que deveriam ser esquecidas

A terça-feira foi puxada.

Durante a aula da manhã o professor começou as atividades com um jogo meninos x meninas em que ele dava o verbo no infinito + modo + tempo + pessoa e deveríamos acertar a conjugação corretamente. Tomamos uma lavada dos meninos. Primeiro porque eles realmente raciocinavam mais rápido do que nós, segundo porque eles tinham mais confiança em responder, mesmo que errassem, do que nós. E o professor me chamou atenção em relação a isso: ele disse que mais que uma vez me ouviu dando a resposta correta para o grupo, que não estava seguro, e por isso acabei ficando insegura também. Preciso confiar mais em mim. Palavras dele e que fazem muito sentido neste momento da minha vida.

Fora isso, senti alguns momentos estranho na aula, especialmente em relação à Janine, garota colombiana que, na minha humilde opinião, precisa ter um pouco mais de respeito com o professor, que é sempre tão gentil e paciente, e com a aula em si. Ela vive no celular e chega até atender o telefone dentro da sala. Além disso, sempre que alguém comete um erro, ela se mete a corrigir de maneira impaciente e acaba parecendo grosseira, embora eu não ache que ser mal educada seja a real intenção dela.

O problema é que ela não gosta justamente do que eu adoro: exercícios de repetição oral e de audição, diálogos com os colegas, construção de diálogos com o professor etc.

Sinceramente, não sei o que essas pessoas fazem nessa escola. Claramente não teremos aula nos padrões regulares de sala de aula. Acho que isso já ficou mais do que claro. Se é o que procuram, não se matriculem na Dilit. Apenas isso.

Bom... Pela primeira vez vi Roberto, nosso professor, se irritar com essa coisa do celular na sala de aula. Mas no geral, ele contorna bem toda a situação.

Almocei com Sara numa cantina perto da escola e quando chegamos à aula da tarde, vimos que temos um novo companheiro de classe: Victor, que é metade boliviano, metade russo.

Acha que domina perfeitamente o italiano (e ele pode até ser melhor que nós, mas se dominasse tão bem o idioma não estaria no mesmo nível de teste que nós); chama atenção das pessoas na sala de aula como se tivesse alguma autoridade para isso e despreza toda e qualquer atividade proposta pela professora.

O mais curioso é que ele e Luiza, nossa professora, já se conheciam anteriormente e ela adora ele. E outra coisa que me chamou atenção é que essa opinião que tive sobre ele foi coletiva: eu não falei nada, mas assim que saímos da sala, Sara e Clement comentaram exatamente isso. Até a Catarina, que é uma aluna que só faz essa aula da tarde, e é uma querida, comentou que não gostou do jeito dele. Vai ser bem difícil!

Ao fim da aula, convidei Catarina para ir jantar com a gente amanhã, porque ela mora sozinha aqui, num convento (é bem comum meninas morarem em conventos aqui) e quase não tem vida social. Ela ficou bem feliz com o convite e aceitou! :)

Enquanto esperava a hora de seguir para a aula de culinária, ficamos no café da escola: eu, Clement, Sara e Lia, que chegou à escola para assistir um filme com Sara. Eis que na rádio do café, que é a mais eclética do mundo (outro dia estava tocando 'Garota Nacional', do Skank!), começou tocar justamente AQUELA música que não era para tocar nem nesta rádio e nem nenhuma outra. Sabe?



Aquela música que lembra aquela pessoa, que traz à tona aquelas lembranças, que desperta aqueles sentimentos que você pensava ter esquecido, mas percebe que de repente estão todos ali, prontos para jogar na sua cara que você ainda não superou o que deveria ter superado há anos, e que é por isso que ainda não está pronta para seguir em frente.

Foi mais que um tapa na cara: foi uma facada no coração. Escutar aquela música deixou o café que eu degustava azedo. Trouxe um sabor amargo à boca, um aperto triste no estômago, uma pontada forte no coração.

Às vezes tenho a sensação que certos sentimentos são capazes de nos causar dores físicas.

Meus amigos perceberam que, de repente, eu fiquei muda. Eu, que estava rindo e fazendo piadas porque ensinei eles nossa gíria '#mimimi', de repente fiquei estática, sem reação.

Pensei que talvez desse sair e chorar.
Em seguida, pensei que podia pedir para trocarem a estação de rádio.
Mas, por fim, pensei que não posso influenciar as pessoas à minha volta por causa de uma música; que não posso mudar o mundo por conta de uma lembrança; e, principalmente, que não posso parar a minha vida por causa de um sentimento.

Acho que finalmente entendi que não posso fugir da música e nem dos meus sentimentos para sempre: uma hora vou ter que escutar a música até o fim e vou ter que encarar minhas mágoas, minhas feridas, meus amores mal resolvidos, meus erros, minhas decepções e todos os meus sentimentos que insisto em guardar em algum lugar beeeem no fundo do meu peito; tão ao fundo, que às vezes até esqueço que estão lá. Mas estão. E a verdade é que enquanto eu escolher continuar guardando, eles nunca irão sair.

Resolvi, então, deixar a música de fundo e escutá-la até o fim. Eu sei que parece uma grande babaquice para quem está lendo, mas acreditem: precisei de muita coragem para fazer isso. Para mim, foi um início de mudança, mesmo que metafórico. Fiquei orgulhosa de mim mesma.

Quando a música acabou, continuei fazendo piadas, rindo e conversando.

Segui para a casa da Don'Anna e quando cheguei, sua filha mais velha, Francesca, estava lá. Foi ela quem me ensinou a fazer a massa artesanal para o macarrão.

Foi BEM divertido, mas já aviso aos navegantes: não existe a menor possibilidade de fazer isso em casa porque dá muito trabalho, hahaha!



Preparamos a massa do canelonni, preparamos o recheio, montamos a massa, preparamos o molho branco e o molho vermelho, colocamos ao forno; preparamos o brócolis e colocamos no fornos; e por fim preparamos a mousse de chocolate e colocamos na geladeira.

Foi um momento bem gostoso, porque ficou claro que a Don'Anna respeita muito o fato de que sua filha prepara a massa caseira melhor do que ela. Fiquei bem feliz em conhecer Francesca, que deve ter seus 40 e poucos anos, não é casada, não tem filhos e não tem habilitação: só anda de bike!

Elas me deram dicas de onde não posso deixar de ir aqui em Roma, bebemos vinho, falamos das eleições no Brasil e, por volta das 20h30, voltei para casa.

Ao esperar o ônibus no ponto, senti minha garganta doer de novo: acho que dessa vez a inflamação pegou. Droga.

Ao chegar em casa, tive que lavar e secar o cabelo (momento #classemédiasofre: não é fácil essa vida de morar no inverno europeu!) e aproveitei para estudar mais um pouco de verbos em italiano. Afinal, sei reconhecer quando não sou boa em uma coisa e verbos... bom, vediamo, va be? :)


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